Ele entrou no ônibus que tinha como destino um bairro periférico na parte alta de Maceió,AL onde já não mais era permito respirar. O ônibus, lotado, carregava uma superpopulação malabarista, que com um corporal jogo diário – o tal jogo de cintura- buscava acomodar o cansaço do sábado, saído do trabalho.
Ele entrou no ônibus onde não era mais permitido respirar, e além de uma mochila que trazia nas costas, ocupava as mãos , com um pacote molhado do frio, logo depositado aos seus pés.
Em poucos minutos o assoalho do ônibus ficou inundado e o cheiro forte traiu o sigilo da “mercadoria”. Era camarão.
A vizinhança no entorno do passageiro iniciou um onda de protestos, pelo cheiro que invadia o veículo, mas o tal protesto foi logo silenciado por uma senhora que sentada nas últimas cadeiras, próximo a mercadoria se fez ouvir: E ele vai fazer o quê? Éle é igual a gente, e como a gente tem direitos de carregar a feira dele no ônibus. Ou não tem?- Desafiava a sábia mulher encarando os agora-atônicos-quase-manifestantes.
E tem mais disse ela: - A luta da gente é contra os outros, os empresários, os donos dos ônibus. Não podemos lutar contra nós, mesm@s. Dito isso sentou em seu lugar e foi ,vigorosamente,aplaudida. O cabra que trazia os camarões agradeceu-lhe com um sorriso desdentado.
Desci do ônibus feliz pelo grau da consciência daquela senhora. Mudanças, né?
Por Arízia Barros (blog Raízes de África)